As fake news na área da saúde são bem populares em nosso país e podem causar pânico ou atrapalhar políticas públicas de saúde e sanitárias. Um forte exemplo disso, segundo uma pesquisa realizada pela AMB (Associação de Médicos Brasileiros), é que 85% dos médicos brasileiros dizem que notícias falsas interferem na adesão à vacinação. O que, consequentemente, dificulta o controle pandêmico.
Mas, afinal, o que médicos podem fazer para ajudar a combater as fake news e conscientizar seus pacientes para garantir saúde e bem-estar de maneira segura? Assim como prometeram fazer ao recitar o juramento hipocrático.
“Eu prometo solenemente consagrar minha vida ao serviço da humanidade; a saúde e o bem-estar de meu paciente serão as minhas primeiras preocupações”.
Como as fake news podem afetar diretamente a saúde de milhares de brasileiros, como já ocorreu em muitos momentos na história de nosso país. É fora de questão apoiar mentiras que possam prejudicar e levar ao fim da vida de qualquer ser humano.
Pensando nisso, separamos ao longo deste artigo as principais formas de combate às fake news que você, médico, pode adotar em sua clínica ou consultório e como conscientizar seus pacientes na busca de informações verdadeiras na área da saúde. Continue a leitura!
O que são fake news (notícias falsas)?
Fake news são as “notícias falsas” que se disseminam por meio das redes sociais e que contém teor sensacionalista a fim de causar medo, preocupação e insegurança nas pessoas.
Elas são compartilhadas como se fossem verídicas por aqueles que desconhecem a verdade ou que querem infligir mal a população, sendo capazes de ter um enorme alcance na sociedade e prejudicá-la sem igual.
Na área da saúde, as fake news mais comuns envolvem tratamentos alternativos para doenças graves, como o câncer, além de boatos sobre novas doenças perigosas e ineficácia de vacinas, como as fake news envolvendo as vacinas da covid-19.
Por se tratar de saúde, a população fica com mais insegurança e pânico, de modo que acreditem em qualquer informação a fim de se prevenir para não correr riscos, como muitos decidiram por não se vacinar, acreditando que a vacina afetaria a saúde negativamente.
Isso é muito prejudicial para a saúde brasileira, visto que pessoas não vacinadas possuem 97x mais chances de virem a óbito do que pessoas vacinadas com o reforço, por exemplo.
As fake news são capazes de causar pânico e temor em uma sociedade, de forma que os boatos sejam ampliados e espalhados perigosamente, principalmente em correntes de WhatsApp e grupos negacionistas do Facebook.
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Como as fake news podem impactar a área da saúde e vigilância sanitária?
Quem acha que as fake news enganam apenas indivíduos mal informados está profundamente enganado. Infelizmente, as notícias falsas também são espalhadas por profissionais da área da saúde.
Muitos se aproveitam também de fake news para prometer a cura de doenças, por exemplo, mesmo sem ter nenhum embasamento científico para isso.
Ao realizar pesquisas nos mecanismos de busca, já é possível encontrar resultados de curas milagrosas e outros tratamentos que não possuem validação médica. Desde receitas de emagrecimento com dietas prejudiciais à saúde até mesmo a cura de doenças que — ainda — não possuem cura.
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O leitor que não busca pela veracidade de informações acaba colocando sua própria saúde em risco, levando a atitudes como automedicação ou de tomadas de decisões que vão de desencontro ao que seria ideal para seu tratamento ou para manter uma vida saudável.
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Casos de fake news na área da saúde famosos na história
Muitos foram os casos de fake news que levaram a uma quantidade absurda de mortos ao longo da história da humanidade, como:
- A causa da peste negra: durante a Idade Média, enquanto a peste negra matou 1 em cada 3 europeus, os judeus foram acusados de serem responsáveis pela praga, visto que pareciam morrer menos do que o resto. Consequência da “obrigação de lavar mãos e pés”, um dos costumes religiosos judaicos.
Acusados de envenenar poços e de satanismo, os judeus foram apontados como a causa da doença. Essa fake news levou a erradicação de mais de 200 comunidades judaicas no auge dessa pandemia.
- A campanha de anti-vacinação da vacina tríplex (caxumba, sarampo e rubéola): o médico britânico, Andrew Wakefield, um gastroenterologista, por meio de uma publicação no jornal Lancet, em 1998, afirmou que crianças autistas desenvolveram o distúrbio de neurodesenvolvimento após tomarem a vacina.
O médico na verdade havia sido pago por um grupo que pretendia processar a indústria farmacêutica.
- A revolta da vacina: em 1904, a famosa revolta popular contra a obrigatoriedade vacinal no país, chegando a 1800 internações por varíola no Hospital São Sebastião, a população se revoltava contra a vacina por ser feita de um líquido de pústulas de vacas doentes e uma fake news que dizia que pessoas que se vacinavam ficavam com feições bovinas.
Após a revolta, a lei de obrigatoriedade vacinal foi cancelada, o que levou ao maior surto epidêmico de varíola na história do Rio de Janeiro em 1908.
Essas são algumas das muitas histórias de como a fake news levou a situações críticas na saúde pública, afetando uma quantidade imensa de pessoas ao longo dos anos.
Nos dias de hoje, fake news são espalhadas diariamente, de maneira ainda mais fácil com o uso da internet, o que com toda certeza afeta uma quantidade imensa de pessoas.
Vacina e as fake news nos dias de hoje
Quem disse que o fácil acesso a informações pela internet levaria a um pleno desenvolvimento da humanidade não levou em consideração a facilidade de se encontrar informações falsas neste meio.
Segundo sites de notícias, 80% do número de mortos na pandemia da covid-19 no fim de 2021 era de não vacinados, e essa não adesão à vacina foi motivada pelas fake news.
Entre as principais e mais absurdas fake news, listados pela Universidade Federal de Santa Maria, incluem:
- A vacina da covid-19 vai modificar o DNA de seres humanos;
- A vacina da covid-19 tem chip líquido e inteligência artificial para controle populacional;
- Imunizantes contra covid-19 estão relacionados à transmissão de HIV;
- As vacinas contra a covid-19 criam campos magnéticos no corpo dos imunizados;
- As vacinas são experimentais e não possuem comprovação científica.
Todas essas informações são mais do que absurdas. Visto que todos os países ou sua grande maioria possuem organizações de vigilância sanitária que realizam pesquisas de comprovação de eficácia (como a Anvisa), além, é claro, das pesquisas científicas feitas pelas fabricantes para o desenvolvimento e testagem de eficácia.
Além disso, os números e resultados da diminuição de mortes e casos graves entre vacinados comprovam que vacinas salvam vidas.
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Como o médico pode combater as fake news na área da saúde e conscientizar seus pacientes?
Diversas instituições da área da saúde publicam comunicados e mensagens com o objetivo de alertar a população de que determinada notícia não é verdadeira — mas nem sempre todas as pessoas são alcançadas.
É preciso que os médicos também sejam ativos nessa causa e saibam quais são as principais maneiras de auxiliar no combate das notícias falsas.
Existem práticas eficientes que os profissionais da saúde podem realizar ao fazerem uso de sua autoridade no assunto para que a informação verdadeira ganhe destaque. Confira a seguir.
- Cheque fontes e referências das notícias compartilhadas, verificando se possuem embasamento científico, credibilidade e validação da comunidade médica.
- Os profissionais da saúde estudam diversos assuntos da medicina em geral e suas especialidades durante muitos anos. Então, todo o conhecimento adquirido por eles precisa ser compartilhado com o público comum. Produza um conteúdo para dizer qual é a verdade, fazendo oposição à notícia falsa e apresentando os fatos concretos por meio de pesquisas científicas para garantir a veracidade de informações.
- Utilize as redes sociais para informar o seu público sobre as fake news e afirme que não é verdade e que essa informação não deve ser compartilhada por ninguém.
- Faça o uso de diferentes canais para conseguir que seu conteúdo informado seja visto por mais pessoas. Para isso, é recomendável que a clínica tenha perfis em várias redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.
- Peça para que seus colegas da área da saúde te ajudem no compartilhamento da informação verdadeira e para que também produzam conteúdos de acordo com suas especialidades a fim de desmentir os boatos existentes.
- Utilize uma linguagem clara e objetiva para que todos possam compreender realmente a mensagem que você, médico, está transmitindo.
- Aproveite para esclarecer as dúvidas que seus pacientes e demais públicos possam ter sobre as fake news que têm ligação com a sua especialização. Por exemplo, se for oncologia, afirme quais são os melhores tratamentos para combater o câncer.
As redes sociais são ferramentas essenciais para esclarecer a verdade em relação às notícias falaciosas e, assim, utilizar a credibilidade do médico para ajudar no combate dessa importante questão.
Ao produzir um conteúdo didático e com informações úteis, o médico é capaz de auxiliar no combate das fake news e transmitir uma mensagem que será capaz de acalmar seu público, além de atrair mais pacientes para sua clínica ou consultório médico e fidelizar aqueles que já consultam com você por meio do acesso a informações verdadeiras.