A tecnologia sempre foi parte da medicina e essa atuação se intensificou ainda mais recentemente. Hoje, vivemos em uma era da saúde digital que impacta profundamente a vida de médicos e pacientes e que pode ir ainda mais longe com o desenvolvimento do metaverso.
Esse conceito inovador vem ocupando a mente de estudiosos, empresários e de uma boa parcela da sociedade com a promessa de uma verdadeira ruptura tecnológica que deve se espalhar nos mais diferentes setores — inclusive na saúde.
Acompanhando a nova tendência, a integração entre a medicina e o metaverso recebeu o nome de metahealth e tem suas próprias promessas para o futuro. Há uma pretensão de otimizar os cuidados com a saúde, aumentar as chances de recuperação dos pacientes, facilitar o trabalho dos profissionais e muito mais.
Várias dessas expectativas já estão se tornando realidade, com investimentos e inovações pelo mundo todo. Por isso, clínicas e consultórios médicos precisam estar cientes da transformação para aproveitarem as novidades e contarem com o melhor da tecnologia no cuidado à saúde.
Leia mais e descubra o que podemos esperar do saúde na era do metaverso:
Em 1992, o autor Neal Stephenson publicou o livro Snow Crash (publicado também como Nevasca no Brasil), um romance de ficção científica no qual os personagens criavam avatares (representações digitais de si mesmos) para viver em um universo virtual. O autor chamou esse mundo online de metaverso.
Essa ideia se consolidou no mundo da internet, com jogos online nos quais jogadores do mundo inteiro poderiam interagir por meio de personagens digitais. A tendência atingiu um patamar inédito com o lançamento do Second Life em 2003.
O jogo se propôs a simular a vida real e atingiu um sucesso espantoso, dando origem até a um comércio digital, que envolve dinheiro real e movimentou milhões de dólares — usuários chegaram a fazer fortunas de verdade dentro do jogo. Com o tempo, contudo, o sucesso do Second Life diminuiu e o assunto perdeu força na mídia.
No entanto, em 2021, o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, fez o tema voltar à tona. Revivendo o conceito de metaverso, ele mudou o nome de sua companhia para Meta e falou sobre a construção de uma espécie de mundo digital, que conectasse nossas experiências reais com as redes sociais. Em suas palavras:
A ideia parte da proposta original de um metaverso, mas também explora conceitos que vêm sendo desenvolvidos há anos, como a realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA). Ele vai mais longe, inclusive, e aborda a realidade mista, ou realidade estendida (XR), que combina os potenciais das outras duas em uma “fusão” dos mundos real e digital, oferecendo outras interações além da visão e da audição, com simuladores que estimulam também o tato.
Isso tem a capacidade de levar o metaverso a um patamar que o Second Life não pôde alcançar na época. Ainda mais com o uso de óculos de realidade virtual, que estão cada vez mais acessíveis e fáceis de usar.
Além disso, há investimentos pesados na inteligência artificial para possibilitar essas interações.
Tudo isso ainda apresenta um potencial maior quando consideramos a relevância atual das criptomoedas (como Bitcoin) e dos NFTs (itens exclusivos negociados de forma digital). Essa maneira digital de fazer negócios é uma aposta de muitos que acreditam no metaverso como uma grande revolução social.
Mas é preciso deixar claro: o metaverso ainda está em fase de construção e há muita coisa incerta envolvendo esse conceito. Enquanto alguns acreditam que ele representa o nascimento de uma utopia digital que vai transformar o mundo, outros o veem como uma simples tendência das redes sociais e do entretenimento.
Mas, seja qual for o verdadeiro impacto dessa nova tecnologia, algumas das inovações do metaverso já estão tendo aplicações práticas em diferentes setores, inclusive na saúde. E é isso que nos importa agora.
Então, deixemos de lado as considerações teóricas e especulativas acerca desse tema e vamos falar sobre a questão prática: o que você pode aproveitar do metaverso em sua clínica ou consultório de medicina?
Em um texto para a Veja Saúde, Guilherme Hummel, coordenador científico do Hospitalar Hub e head mentor da EMI (eHealth Mentor Institute), afirmou que as aplicações do metaverso na vida real “ainda são raras”. No entanto, ele considera que a combinação de tecnologias presentes nesse novo conceito pode ser usada para “melhorar a saúde”.
Nesse contexto, ele destacou a evolução dos óculos de realidade virtual, que se tornaram muito mais leves e eficientes — adequados para o uso médico.
Hummel também falou das funcionalidades dessa tecnologia: “as ferramentas do metaverso podem se conectar remotamente a especialistas, sobrepor em holografia dados personalizados do paciente, consultar imagens 3D em videotecas, combinar casos clínicos com alta resolução ou tornar procedimentos invasivos muito mais programáveis”.
Um texto de Jonas Sertório e Camila Pepe no MIT Technology Review apontou que “ainda não conhecemos os limites do metaverso na saúde, mas já temos evidências do potencial uso dessas tecnologias no tratamento de diversas doenças crônicas e para a interação médico-paciente”.
De fato, há diferentes tecnologias que vêm impactando a maneira de praticar a medicina. Confira algumas das principais aplicações do metaverso na saúde:
Lembra quando falamos sobre a criação de um avatar seu no mundo digital do metaverso? A tecnologia de gêmeos digitais parte dessa mesma premissa para desenvolver uma “cópia” da pessoa de forma computadorizada. Essa réplica conta com todas as informações de saúde do indivíduo e pode ser atualizada em tempo real.
Assim, ela tem o potencial para refletir desde o status molecular e fisiológico da pessoa até seu estilo de vida ao longo do tempo. Dessa forma, o médico tem um padrão de saúde de seu paciente, podendo antecipar doenças e simular cenários, além de ter mais facilidade para planejar o pré, o intra e o pós-operatório.
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Profissionais da Medicina sabem que uma das partes mais desafiadoras do aprendizado é o treinamento. Afinal, sem o preparo adequado, é arriscado realizar procedimentos em pessoas — o que, consequentemente, deixa a preparação mais complicada.
Há diversas estratégias para superar esse desafio, com diferentes níveis de sucesso, mas as tecnologias do metaverso apresentam algumas ideias com grande potencial, com simulações, óculos de realidade virtual e outras opções que tornam o treinamento imersivo, completo e totalmente seguro.
Um estudo publicado na revista científica PLOS ONE mostrou que a realidade virtual pode ser usada para reduzir a dor em pacientes hospitalizados. Esse é um entre muitos estudos que indicam o potencial dessa tecnologia para “distrair” os sentidos e limitar os estímulos que causam dor.
O impacto é tão reconhecido que a agência federal FDA, dos Estados Unidos, já autorizou a comercialização de um sistema de realidade virtual que usa terapias para pacientes. Seu uso depende de prescrição médica.
Há ainda outros exemplos de jogos focados na redução da dor e reabilitação motora baseados em realidade virtual.
A tecnologia do metaverso vem se mostrando muito eficiente para tratamento e monitoramento de pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, entre outros.
Aplicativos já autorizados nos Estados Unidos acompanham continuamente índices de estresse, frequência cardíaca, movimentos do corpo e outros detalhes que podem dar sinais da condição do indivíduo. Há ainda tecnologias que ajudam a aumentar a atenção, lidar com casos de estresse, entre outras situações.
Cirurgias computadorizadas não são novidade. No entanto, a realidade aumentada está ampliando esses horizontes. Em 2020 neurocirurgiões da Universidade Johns Hopkins utilizaram essa tecnologia para realizar duas operações de bastante precisão na coluna vertebral e na medula espinhal de pacientes.
Segundo o texto de Sertório e Pepe, os médicos contaram com “um fone de ouvido com visor transparente que projeta imagens da anatomia interna do paciente com base em tomografias, fornecendo aos cirurgiões uma visão detalhada dos ossos e outros tecidos”. Isso ajudou a garantir o sucesso nas duas cirurgias
Esses avanços apresentam um potencial enorme que pode revolucionar o mundo das cirurgias nos próximos anos.
Mesmo sem a “utopia digital” sonhada por algumas pessoas, as tecnologias do metaverso já estão ajudando a transformar a medicina, entregando mais precisão, segurança, possibilidades de monitoramento e bons resultados em diferentes tratamentos de saúde.
No entanto, muitas dessas tecnologias ainda são novas e sua implantação no Brasil enfrenta alguns desafios importantes. Algumas inovações não estão disponíveis no país, outras ainda não foram aprovadas pelos órgãos regulatórios, e há as que já chegaram por aqui, mas são pouco acessíveis por causa do preço.
Mas isso não significa que sua clínica não pode começar a se adaptar às inovações do metaverso. Além das novas tecnologias, que envolvem inteligência artificial, realidade mista e outras vantagens para o cuidado dos pacientes, a metahealth também depende da mentalidade de médicos e gestores que buscam integrar a tecnologia e a saúde digital ao trabalho diário de suas clínicas.
Contar com uma agenda médica digital, por exemplo, é um passo importante para ter todo o controle do estabelecimento na palma da mão, com informações sobre os pacientes, organização das consultas e muito mais. Isso ajuda o médico e o paciente com a agilidade dos atendimentos e a eficiência de todo o processo.
Outro grande potencial é o do prontuário eletrônico. Nele, o médico pode registrar todo o histórico do paciente, com cópias de exames realizados e medicamentos aplicados. Tudo para permitir diagnósticos e tratamentos mais acertados, em uma medicina de precisão.
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Isso sem falar da telemedicina, um grande avanço dos últimos anos, que permite atendimentos a distância e acompanhamentos muito mais frequentes do paciente. Com uma sala para teleconsultas integrada ao seu sistema de gestão e aos prontuários, os resultados do atendimento digital são muito melhores.
Sem falar que tudo isso é fundamental para quando sua clínica tiver acesso às tecnologias específicas do metaverso. Afinal, as informações e a gestão precisam estar bem organizadas para que você possa explorar ao máximo o potencial da tecnologia no trabalho médico.
Além disso, os avanços que já estão disponíveis são passos importantíssimos para desenvolver um atendimento mais digital e mais humano em qualquer estabelecimento médico. Essa humanização precisa estar no coração da metahealth, para garantir um atendimento médico de qualidade, que realmente se importe com o bem-estar de seus pacientes.